Por Danyelle Nilin
Publicado originalmente em 14/03/2024
#AbreAspas | No dia 31 de março de 2024 completam 60 anos do golpe que instituiu a ditadura cívico-militar no Brasil e que durou oficialmente 21 anos, com consequências que perduram até os dias atuais para o conjunto da sociedade brasileira e, especialmente, para aqueles que foram perseguidos politicamente. Em sociedades rachadas pelos regimes ditatoriais, o passado e seus dramas não são compartilhados entre todos. Nunca houve um consenso sobre o que aconteceu, mas os últimos tempos fizeram emergir sentimentos ainda mais conflitantes que dizem respeito ao entendimento desse momento histórico e sobre o que fazer com ele, o que fazer com as pessoas que foram direta e indiretamente afetadas pela perseguição política e que guardam na pele, na alma e nas vidas as marcas desse tempo?
A reparação aos perseguidos nunca foi consensual, nem mesmo entre os beneficiários, assim como em outros países que vivenciaram processos semelhantes. A pergunta de fundo para muitos dos que se negaram a entrar com o pedido de reparação dizia respeito justamente às questões: Aceitar dinheiro, pedido oficial de desculpas, reintegração a empregos e cursos universitários interrompidos resolve a situação, quando nenhum envolvido nas torturas e desaparecimentos foi punido por seus atos? Essas questões permanecem atuais e efeméride como essa que iremos vivenciar é uma ocasião para pensarmos se queremos deixar os fatos ocorridos entre 64 a 85 no passado e mirarmos o presente, como sugeriu Lula nas últimas semanas ou revogar a Lei de Anistia de 1979 e punir os responsáveis pelas torturas e desaparecimentos de milhares de pessoas, como querem parte dos movimentos? Certamente a última opção seria a verdadeira reparação, não somente aos perseguidos políticos, estendendo seus efeitos à vida social.
Danyelle Nilin. Universidade Federal do Ceará
*Este post não representa necessariamente a posição da ANPOCS.