Por Edilson Pereira

Publicado originalmente em 03/04/2021

#SemanaSanta | Semana santa, pandemia e liminaridade

A Sexta-feira da Paixão e o Domingo de Páscoa rememoram a morte e ressurreição de Cristo. Nessa época do ano, diversos coletivos lançam mão de múltiplas formas de expressão cultural para atualizar a narrativa religiosa. No interior do Brasil e em periferias urbanas, performances devocionais como as procissões, cânticos, penitências, vias sacras e autos da paixão se apropriam da antiga narrativa cristã para dramatizar certas dores do presente.

Pelo segundo ano consecutivo, as celebrações com maior público seguem interrompidas pela pandemia. Na contramão do que a tradição socioantropológica ensinou sobre as festas com intensa participação, a efervescência coletiva se apresenta agora como algo potencialmente nefasto. Devotos e não-devotos se vêem impossibilitados de se reunir e partilhar momentos que qualificam a passagem do tempo e produzem memórias afetivas.
Contextos rituais como este – e sua suspensão – nos revelam que a experiência de viver em pandemia no Brasil se apresenta como um estado de liminaridade. Porém, ao contrário dos ritos de passagem que operam uma inversão provisória e propositada da ordem das coisas, vivemos um tempo de luto que se prolonga de modo indefinido.

Enquanto a tradição popular de cobrir as imagens de santo durante a quaresma (obstruindo aquilo que foi feito para ser visto) se encerra com a festa da ressurreição, seguimos tendo que lidar com a anormalidade que se tornou cotidiana. Ao mesmo tempo, muitos coletivos têm reinventado as maneiras de cumprir com suas obrigações religiosas e se manter em contato, remotamente. São novas formas de animar sentimentos e produzir memórias sobre datas festivas como a deste fim de semana.

Texto e imagens: Edilson Pereira (@ed_pereira), antropólogo, professor adjunto da ECO-UFRJ. (@ufrj.oficial)

*Este post não representa necessariamente a posição da ANPOCS.

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