Por Régia C. Oliveira

Publicado originalmente em 24/04/2021

#AbreAspas | A violência contra crianças no Brasil é um fenômeno social que, em suas diferentes formas e horrores, revela-se em todas as classes sociais. Ainda que mudanças na sensibilidade social e nas leis, fruto de um longo processo, tornam a violência contra a criança hoje algo inaceitável, sensibilizam de modo diferente. O modo como são noticiados diz muito mais sobre as expectativas relacionadas aos lugares sociais dos indivíduos, em nossa sociedade, do que sobre os próprios crimes e violações. O caso de Henry, bastante noticiado, consternou a sociedade pela violência praticada contra a criança de quatro anos, em um prédio nobre do Rio de Janeiro. Grande repercussão envolvendo uma criança pobre de cinco anos de idade, em um prédio de luxo em Recife, ficou conhecido como caso do menino Miguel, morto ao cair do 10 andar desse prédio.

Ágatha, criança negra como Miguel, moradora do complexo do Alemão, foi morta com um tiro nas costas, dentro de uma Kombi, ao lado de sua mãe. Junto de seu nome, revelado pelos jornalistas, o avó trata de esclarecer se tratar de uma boa menina, enquanto evidencia uma unidade familiar e sua rede de apoio. A fala do avó de Ágatha também revela o esforço contínuo e cotidiano de um desvinculamento entre pobreza e marginalidade. Ainda que vítima, é preciso afirmar que era uma criança estudiosa e bem cuidada.

Cabe afirmar a diversidade das infâncias mesmo em contextos que buscam homogeneizá-las, enquanto também são homogeneizadas suas famílias e as relações de cuidado, onde morreu Ágatha, onde nasceu Miguel e onde vivem tantas crianças, meninos e meninas sem nome noticiado, vítimas de violências diversas, segundo o gênero e a cor da pele, machucados também quando são cotidianamente tomados pelas ideias de falta.

Escultura de Bruno Duarte – “Bem do Rio”.

Régia C. Oliveira. Socióloga, Professora da EACH/USP (EACH/@usp.oficial)

*Este post não representa necessariamente a posição da ANPOCS.

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