Por Nathanael Araujo
Publicado originalmente em 22/04/2021
#AbreAspas | A inclusão dos livros na proposta de taxação da reforma tributária de Bolsonaro preocupa por seus usos, enquanto símbolo vertiginoso de um projeto de poder. Entidades do mercado editorial e sociedade civil têm rebatido as pouco adensadas justificativas dadas pelo governo, maior comprador de livros do setor, para a taxação. A mais recente não é nova: alega-se que a posse de livros é maior entre os estratos mais abastados da sociedade. No entanto, ainda que a compra não seja sinônimo de leitura, a luta pela democratização do acesso a esses bens encontra-se historicamente atrelada a erradicação do analfabetismo e aumento da escolaridade da população. Só recentemente o Estado logrou tornar obrigatório e gratuito o Ensino Básico e passou a ampliar o acesso ao Ensino Superior. O aumento da distância entre quem poderá pagar a mais e quem tenderá a ter seu acesso mais dificultado nos informa a respeito de concepções, valores e projetos de nação em jogo.
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O uso de livros como instrumentos orientados para incitação ou coibição de determinadas ações no debate político não é recente. Em 2010, o então deputado passou a irradiar pânicos morais tendo nos impressos sua principal forma de materialização discursiva. Na campanha presidencial de 2018, contrário a cartilha de combate a violência escolar, exibiu na tv obra supostamente distribuída pelo MEC com conteúdo condenáveis. Eleito, Bolsonaro trouxe seus livros à cena: a Bíblia ao lado de “O mínimo que você precisa saber para não ser um idiota”, de Olavo de Carvalho, e a Constituição Federal sobre as “Memórias da Segunda Guerra” de Winston Churchill. Em 2020 comunicou alterações nos livros didáticos, apontando que “Os livros hoje em dia, como regra, é um montão, um amontoado de muita coisa escrita”, devendo-se “suavizar aquilo”.
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Nathanael Araujo (@nathanael.araujo). Doutorando em Antropologia Social pela Universidade Estadual de Campinas (PPGAS/@unicamp.oficial) e pesquisador do CEBRAP.
*Este post não representa necessariamente a posição da ANPOCS.