Por Rosana Castro

Publicado originalmente em 05/10/2021

#AbreAspas | O mês de setembro foi marcado por denúncias de abusos e ilegalidades de diferentes planos de saúde no contexto da pandemia de Covid-19. Entre elas, destacam-se a coerção de equipes médicas para a prescrição de medicamentos ineficazes, intervenções com o chamado “Kit Covid” sem confirmação de diagnóstico, adulterações em prontuários de pacientes internados com Covid e complicações dela decorrentes, omissões de mortes pela infecção em certidões de óbito e experimentos clínicos sem o conhecimento ou consentimento de pacientes e seus familiares.

As denúncias vieram a público com o avanço das investigações da chamada CPI da Pandemia, e lançam luzes sobre ações do setor privado nos últimos meses. Segundo a Agência Nacional de Saúde Suplementar, os planos de saúde alcançaram seu maior número de clientes em setembro deste ano desde maio de 2016, tendo expandido sua quantidade de beneficiários em cerca de 1,6 milhão entre julho de 2020 e de 2021. Ao mesmo tempo, de acordo com publicação do Projeto Saúde Amanhã, da Fiocruz, seguradoras de planos de saúde vêm obtendo lucros significativos durante a pandemia, sobretudo pela redução de gastos com procedimentos eletivos.

Chamam atenção os indícios de associação dos expedientes clínicos e comerciais de empresas do setor com práticas negacionistas, fraudulentas e nocivas à saúde. Junto da já divulgada expansão vertiginosa de ganhos de laboratórios farmacêuticos com a venda medicamentos ineficazes para a Covid-19 no Brasil, a mercantilização da saúde se mostra agora mais diversificada e intensa do que imaginávamos. Seus imensos impactos sobre adoecimentos, sequelas e mortes no Brasil apenas começaram a ser dimensionados.

Rosana Castro. Instituto de Medicina Social, Professora Adjunta da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (@uerj.oficial)

*Este post não representa necessariamente a posição da ANPOCS.

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