Por Danusa Marques

Publicado originalmente em 14/03/2022

#AbresAspas | Nesta semana do 8M, tivemos uma série de falas de autoridades do Estado brasileiro que causam repulsa a qualquer pessoa minimamente comprometida com a democracia e princípios básicos da cidadania. Do presidente ao engavetador-geral da República, não faltaram declarações vergonhosas, que tiveram bastante repercussão na imprensa e nas redes sociais. Cabe a nós, cientistas sociais, a reflexão crítica sobre isso.

O sentido que o 8 de março carrega para os feminismos é inegável. Se no passado foi uma data de lutas das mulheres trabalhadoras, ao longo de décadas os impactos da semana de mobilização feminista foram se multiplicando, sem nunca ter esvaziado as ruas. Este processo não é tranquilo: as ações feministas carregam em si o objetivo de escancarar e combater as opressões patriarcais. As lutas por justiça de gênero se dão de diversas formas e a reação fundamentalista organizada para neutralizá-las (ou aniquilá-las) se dá cada vez mais em campo aberto.

Quando uma autoridade do Estado usa sua oportunidade privilegiada de fala para gerar impacto usando estereótipos patriarcais contra as mulheres, seu objetivo é controlar a agenda pública e, ao mesmo tempo, reforçar os papéis de gênero patriarcais como única realidade possível. Em resumo, é uma batalha pelo controle do que é construir gênero.

A semana do 8M é de encontros feministas, de organização política das mulheres, de imaginar um outro mundo. Esta mobilização também constrói gênero – a partir de princípios democráticos, igualitários e solidários. Os limites da construção do gênero não estão simplesmente dados pelas declarações dos atores autoritários. Eles estão em disputa. Sabendo disso há décadas, as feministas sempre estiveram na linha de frente na defesa da democracia.

Danusa Marques (@dmqs). IPOL/UnB (@ipol_unb/@unb_oficial)

*Este post não representa necessariamente a posição da ANPOCS.

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