Por Lucas Pedretti

Publicado originalmente em 31/03/2022

#AbreAspas | No marco dos 58 anos do golpe militar de 1964, o Ministro da Defesa e os comandantes das Forças Armadas publicaram uma Ordem do Dia reafirmando a defesa da ditadura militar. O texto afirma que o legado do período foi “paz, tranquilidade e democracia”. Oculta, assim, os verdadeiros efeitos do regime: a inflação galopante, o aprofundamento da desigualdade social, o genocídio indígena, as relações corruptas entre militares e empresários e as graves violações de direitos humanos, simbolizadas pelos milhares de torturados, mortos e desaparecidos cujas famílias lutam até hoje por memória, verdade, justiça e reparação.

A nota é mais um sinal da deterioração institucional do país, que tem na politização dos militares uma de suas expressões mais fortes. É notório que, desde 2016, as Forças Armadas têm se articulado para retornar ao primeiro plano da cena política. Com isso, atacam aquele que é um dos pilares básicos da democracia: a subordinação do poder armado aos civis. Uma agenda de reconstrução democrática do Brasil precisa passar por uma reforma institucional das Forças Armadas, adequando-as ao Estado Democrático de Direito, onde não pode haver espaço para o elogio da tortura, dos golpes de Estado e do autoritarismo.

Lucas Pedretti. Historiador e Doutor em sociologia pelo IESP/UERJ (@iesp.uerj)

*Este post não representa necessariamente a posição da ANPOCS.

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