Por Lia de Mattos Rocha

Publicado originalmente em 27/05/2022

#AbreAspas | No dia 24 de maio, no Alemão e na Penha, 23 pessoas foram mortas como resultado de uma operação policial conjunta de agentes do Batalhão de Operações Especiais, da Polícia Federal e da Polícia Rodoviária Federal, na segunda maior chacina na história do Estado do Rio de Janeiro.

Muitos pontos nesse caso deveria causar indignação.

Segundo a PMERJ, o objetivo da ação era localizar e prender criminosos, mas seu “resultado” foi a apreensão de 11 fuzis, quatro pistolas, motocicletas e automóveis que teriam sido usados pelos criminosos.

A ação descumpriu a ADPF nº 635, definida pelo Supremo Tribunal Federal e que proíbe operações durante a pandemia, mas as polícias já encontraram maneiras de burlar tal proibição, sem consequências.

O Presidente Bolsonaro e o Governador Claudio Castro apoiaram a ação. Para Castro, foi uma resposta a “Essa gente ruim”. Já Bolsonaro deu “Parabéns aos guerreiros” que “neutralizaram pelo menos 20 marginais”.

Nesse mar de mortes, as matérias sobre o caso rapidamente são substituídas pela próxima barbárie – no caso, o assassinato de Genivaldo de Jesus dos Santos, asfixiado no bagageiro de uma viatura da PRF em Umbaúba, Sergipe.

As polícias brasileiras executam negros e pobres diariamente – mas parecemos anestesiados diante de tantas mortes. E elas não irão parar. Como apontou Mbembe, o massacre é nova tecnologia de destruição dentro da ordem econômica vigente. Em ano eleitoral, fica evidente a plataforma que candidatos da extrema-direita irão apresentar. Mesmo que sejam derrotados (o que espero!), precisaremos de mais que uma vitória eleitoral para recusar a naturalização da morte como forma de gestão da vida. E enquanto isso não acontece continuaremos contando mortos.

Lia de Mattos Rocha. Professora do Departamento de Sociologia da UERJ (@uerj.oficial)

*Este post não representa necessariamente a posição da ANPOCS.

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