Por Lilia Schwarcz

Publicado originalmente em 09/09/2022

#BicentenárioIndependência | Bolsonaro procura melhorar sua “performance” com as mulheres, mas não consegue. Faz sempre o oposto.

Disse ele em Brasília: “Tenho falado com homens que estão solteiros: Procure uma mulher, uma princesa, se casem com ela, para serem mais felizes ainda.” A visão é que não há protagonismo nas esposas; afinal, nos contos de fada elas só aguardam “eternamente em berço esplêndido” a chegada de um príncipe encantado.

Bolsonaro ainda procurou fazer uma comparação com outras primeiras-damas, ao mesmo tempo que engrossou um coro, auto-referido. “Imbrochável, imbrochável, imbrochável”, gritava ele, com um sorriso no rosto, puxando o coro dos machos, depois de dar um beijo na primeira-dama. No entanto, como o efeito dura pouco, logo na sequência o presidente empurrou com o braço a esposa/ princesa, para atrás de si. Era o símbolo que faltava para mostrar o lugar que ele devota às mulheres.

A palavra imbrochável não existe no dicionário. É um neologismo criado pelo presidente para fazer referência ao seu desempenho sexual. O termo é tão ambíguo como não dicionarizado. Segundo o dicionário, brochar significa “perder a potência sexual; mostrar-se incapaz de praticar o ato sexual”. Mas também pode significar: “Mostrar-se desanimado; desanimar”. Tambémnão há consenso em como grafar: brochar ou broxar.

Mas no caso do presidente seria melhor recorrer não à gramática mas antes à psicanálise. Aquele que precisa afirmar tantas vezes sua masculinidade, e fazer dela um espetáculo público é porque, em geral, tem no seu desempenho sexual um problema e não uma solução.

Nada disso interessa à República e à democracia. A efeméride da independência deveria levar a uma reflexão cívica — e não militar ou machista — sobre o que queremos. Qual é nosso projeto para o presente e como sonhamos com o futuro num país ainda tão desigual, que pratica um racismo estrutural e é campeão de feminicídio?

Nessa história real do Brasil a independência continua incompleta e o príncipe não casa com a princesa. Vira sapo!

Lilia Schwarcz (@liliaschwarcz). USP (@usp.oficial)

*Este post não representa necessariamente a posição da ANPOCS.

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