Por Marília Moschkovich

Publicado originalmente em 08/09/2022

#AbreAspas | Não tem sido fácil. Brasileiras e brasileiros que acompanham o acalorado debate político nacional têm se deparado de maneira frequente nos últimos anos com o que muitas pesquisadoras chamam de “ataques misóginos”. O episódio mais recente desse tipo, durante o debate eleitoral na TV Bandeirantes, foi o descontrole do atual presidente que, em vez de responder à pergunta que lhe havia sido colocada, usou seu tempo para atacar de maneira misógina uma das jornalistas que estava ali, a trabalho, fazendo perguntas aos candidatos.. A desestabilização visível do agressor foi suficiente para que os demais candidatos e outras jornalistas insistissem no assunto do “direito das mulheres” – com razão. Não era a primeira vez que o agressor se utilizava de seu cargo ou posição política para desferir misoginia contra aquelas que considera suas adversárias.

Misoginia é uma palavra que vem do grego. O radical “miso” indica ódio enquanto “gyne” significa “mulher”. O termo é ligeiramente diferente de “machismo”, embora as práticas estejam relacionadas. Misoginia é um conjunto de práticas de ódio às mulheres por seu gênero. O olhar misógino diminui, desqualifica, rejeita e imprime repulsa às mulheres e a tudo que seja a elas relacionado. É uma infeliz constante em casos de violência política de gênero (ou seja, a violência de gênero mobilizada com propósitos políticos, na arena política e para ganho político), fenômeno que vem se tornando objeto de interesse de diversas pesquisas das ciências sociais. Não é mero acaso. Quando o chefe do poder executivo sistematicamente comete violência misógina sem grandes repercussões, a prática progressivamente se legitima na arena política nacional.

Marília Moschkovich. Depto de Antropologia – FFLCH/USP (@usp.oficial)

*Este post não representa necessariamente a posição da ANPOCS.

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