Por Luiza Fonseca de Souza

Publicado originalmente em 06/04/2023

#AbreAspas | Em março de 2023, completaram-se cinco anos desde os primeiros indícios de um crime socioambiental na cidade de Maceió, Alagoas, em razão da mineração de salgema pela petroquímica Braskem S/A.

Após quatro décadas de exploração do mineral no subsolo da capital, rachaduras e crateras surgiram nos bairros localizados sobre as minas de salgema, expondo o processo acelerado de afundamento que atingia a região. Desde então, cerca de 60 mil pessoas foram deslocadas compulsoriamente de suas moradias, além de milhares que hoje vivem em regiões de iminente risco e se encontram ilhadas socioeconomicamente.

Os bairros de Bebedouro, Mutange, Pinheiro e regiões do Bom Parto e Farol se transformaram nos chamados “bairros-fantasmas” e representam para os moradores um desfecho desolador de suas trajetórias de vida na região.

Das igrejas vazias às praças abandonadas que reuniam milhares de moradores em festas populares, caminhar hoje pela região traz a sensação de andar por um mundo que deixou de existir. Os processos de arruinamento, demolição das propriedades e encolhimento da vida social na região se assemelham a um cenário de guerra, como declaram os moradores e ex-moradores de lá.

Dentre as movimentações que ocorrem atualmente nos bairros, destacam-se a operação das máquinas e a presença de trabalhadores da Braskem e terceirizados, realizando desde demolições à vigilância da região por meio de seguranças, câmeras e drones por toda a extensão do território. Simultaneamente, as ruas da região seguem sendo utilizadas por automóveis para se esquivarem do trânsito da cidade, sobrecarregando vias que apresentam inúmeras placas de rota de fuga.

Por fim, operam alguns pequenos comércios, com destaque aos que se dedicam a vender peças removidas dos imóveis abandonados. Num contexto de exploração de recursos naturais, cenários como o vivenciado em Maceió tendem a se repetir no Brasil e no mundo.

Luiza Fonseca de Souza. PPGSA, UFRJ

*Este post não representa necessariamente a posição da ANPOCS.

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