Por Justino Sarmento Rezendo – Tuyuka
Publicado originalmente em 03/06/2023
#MarcoTemporalNão | A terra é anterior ao surgimento dos humanos. Cada povo narra sua história de origem posteriormente à existência da terra. Os povos indígenas são aqueles que vivem antes que os europeus chegassem ao Brasil. Por serem os primeiros e longevos habitantes dessa terra cultivam uma profunda relação afetiva com ela.
Na conexão com os habitantes da terra os povos originários criam sua cosmovivência, por isso, nossos especialistas continuamente elaboram conhecimentos e práticas cerimoniais para restabelecer o respeito, o diálogo e as etiquetas necessárias para com todos os seres residentes da terra. As cerimônias rituais são formas de convidar os seres da floresta, da água, do ar, do vento, da luz a participarem da festa cósmica. Esses habitantes da terra são reconhecidos por nós como nossos avós, irmãos mais velhos, donos da casa, donos da terra. A afirmação de que a terra é mãe é a expressão de uma filosofia de vida, de uma estreita e respeitosa relação com ela.
A terra é o patamar que sustenta a existência de muitas vidas. As florestas são casas de muitas gente-árvores, de gente-pássaros, gente-flores, gente-frutas… Há uma conexão afetiva e afetuosa com os sabores e cheiros da terra, da floresta, das frutas, dos pássaros, dos peixes, etc. Os “civilizados” que atacam e destroem a floresta, que cavam a terra e as serras, que remexem o leito dos rios, destroem as casas e muitos seres que aí habitam. A terra que os povos originários defendem não é somente para eles, é para todos os seres vivos que nela habitam.
As vozes indígenas que gritam, os cocares que balançam, as pinturas corporais são expressões das vozes das florestas, dos cheiros e odores da argila, dos peixes, dos pássaros. Pergunto: o que sabem sobre essas coisas os defensores do Marco Temporal? Seguramente nada. Poderiam, então, minimamente, ler e entender o que diz o Artigo 231 da Constituição do Brasil.
Justino Sarmento Rezende – Tuyuka. Pesquisador do NEAI/UFAM
*Este post não representa necessariamente a posição da ANPOCS.