Por Carolina Bonomi

Publicado originalmente em 27/07/2021

#AbreAspas | Qual pesquisadora/o não se viu em uma rua sem saída, questionando-se como seguir com a pesquisa em tempos tão adversos? Mais do que isso, como pesquisar em um contexto de precariedade, de um governo da morte? Não existe uma fórmula mágica e muito menos, não ocuparei o lugar de vender “bons conselhos”, apenas buscarei partilhar quais são as táticas que utilizei para atravessar essa crise sanitária, apesar de tudo.

O primeiro passo foi revisitar a bibliografia. Redescobri meu projeto de doutorado: encontrei novas lacunas, fontes, questões. Com as dezenas de fichamentos em mãos, consegui redesenhar o meu problema de pesquisa. Reaprendi, também, a refletir sobre as questões, dando tempo para o cérebro oxigenar as ideias. Parece pouca coisa, mas não é. Ficar confinada dentro de casa possibilitou ficar mais atenta aos pequenos movimentos da pesquisa, que foi criando vida apesar de tanta morte.

O confinamento também fez com que aguçasse meu interesse por diferentes redes sociais, mais especificamente ao twitter. Entre lamentos e pequenos tuítes sobre prostituição, fui estabelecendo redes de contatos com diversos trabalhadores sexuais. Meu foco, antes da pandemia, era investigar o trabalho sexual nas zonas de prostituição. Com a crise sanitária fui apresentada para os mercados sexuais online. O mundo expandiu de dentro do meu quarto: tracei as redes desses mercados, das pessoas, grupos, produtoras. Pra’lém de aprimorar os métodos online, comecei a escrever os “famosos fios” para criar uma forma alternativa e mais acessível de divulgar as questões de pesquisa. Essas práticas metodológicas me fizeram refletir, para além de uma etnografia online, numa etnografia do cotidiano, da crise, da precariedade e como modos de vidas se reinventam a partir dessas dinâmicas.

Imagem: Rinee Shah/InsideHook

Carolina Bonomi. Doutoranda PPGCS/PAGU/POLCRIM/BITITA/IFCH/Unicamp (@unicamp.oficial)

*Este post não representa necessariamente a posição da ANPOCS.

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