Por Felipe Bellido

Publicado originalmente em 04/02/2022

#AbreAspas | No Brasil, boa parte dos dados sobre exclusão social tem como protagonistas corpos negros e indígenas. No que tange à violência não é diferente. Como evidencia a pesquisa do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, publicada em 2021, 77% das vítimas de homicídio no país são negras, e a chance de um negro ser assassinado é 2,6 vezes maior do que um branco.

O assassinato de Moïse Mugenyi Kabagambe não foge a essa regra e nos obriga a escrever sobre escravidão e linchamento, duas instituições sociais supostamente obsoletas em nosso imaginário. O jovem congolês, ao cobrar o patrão por seu trabalho, foi espancado, amarrado e assassinado por um grupo de homens.

Moïse é mais um exemplo duro do conceito de Faustino e Oliveira de xenofobia racializada. Em recente relato, uma coordenadora da Cáritas RJ teria dito que os empresários cariocas preferem contratar imigrantes brancos, enquanto congoleses e haitianos só eram procurados para trabalho braçal. No Brasil, as estatísticas e os fatos revelam que a racialidade interfere em todos os marcadores sociais de diferença.

Christian Mutoka Mutombo, amigo de Moïse, relatou ter ficado em choque, “a gente não sabia com quem falar, o que fazer […], foi uma situação muito triste, a vida dele foi tirada, entendeu? Não é uma morte! Eu chamo de uma perda de vida, uma vida tirada de uma forma muito covarde.”, e conclui enfatizando que “hoje estamos sem ele, o que nos resta é a memória dele para honrar”.

Mutombo, que chegou ao Brasil em 2011, no mesmo ano que Moïse, pede por justiça. As entidades negras, a comunidade congolesa, a família e as mais diversas associações marcaram manifestações para o dia cinco de fevereiro, os atos têm como mote “Justiça por Moïse já!”.

Felipe Bellido (@felipebellido). Doutorando do PPGCIS/Puc-Rio (@cienciassociais_pucrio) e membro da Educafro (@educafro)

*Este post não representa necessariamente a posição da ANPOCS.

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