Por Juliana Oliveira Silva

Publicado originalmente em 18/06/2022

#AbreAspas | Era domingo (05/06/22), quando Eliesio Marubo e eu aguardávamos Bruno vir de Atalaia do Norte para Tabatinga. Ele queria nos encontrar para discutir novas ideias que adquiriu ao longo de sua viagem ao rio Curuçá. Não sabíamos que aquela seria a última atividade de Bruno na TI Vale do Javari.

Bruno era alguém cheio de vitalidade para trabalhar, um especialista da política indigenista brasileira. Foi ele quem me permitiu conhecer os Korubo do Vale do Javari, ao assinar a minha autorização de ingresso em terra indígena, quando era chefe da Coordenação Geral de Índios Isolados e de Recente Contato/FUNAI. Era querido e estimado pelos Korubo, que chegaram a colocar o nome dele em algumas crianças — algo que não costumavam fazer com os brancos.

Desde aquele domingo, incansavelmente, passamos a reunir todos os documentos da UNIVAJA para mostrar à imprensa. Já que, desde o segundo semestre de 2021, os órgãos estatais e autoridades competentes haviam ignorado os ofícios e relatórios enviados pelo movimento indígena. Nesses documentos, a UNIVAJA denunciava a atuação de uma organização criminosa de caçadores e pescadores profissionais, aliados ao narcotráfico: seus nomes, métodos de atuação, pontos de entrada e saída da TI.

A Equipe de Vigilância da UNIVAJA/EVU, da qual Bruno era consultor técnico, passou a incomodar essa organização criminosa de tal modo que tentaram silencia-lo, assassinando-o cruelmente. Dominic, parceiro, registrava a atuação da EVU e também foi assassinado. Bruno era o alvo principal, assim como outros integrantes da UNIVAJA, que também vivem sob ameaças.

Bruno e Dom eram defensores dos direitos dos povos da floresta, assassinados em um crime político, pluri qualificado. Mas suas vozes não foram caladas. Ressurgem em nós com força. Cada um de nós tem um papel a ser desempenhado nessa luta que continua e cresce: a luta pela vida. Somos todos Bruno e Dom!

Juliana Oliveira Silva. Doutoranda do PPGAS-MN/UFRJ (@ufrj.oficial); Assessora da UNIVAJA; Membro do Observatório dos Direitos Humanos dos Povos Indígenas Isolados e de Recente Contato (Opi)

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