Por Sanderson Castro Soares de Oliveira

Publicado originalmente em 20/06/2022

#AbreAspas | As mortes de Bruno Pereira, de Dom Philips e de Maxciel Pereira dos Santos são resultado de um longo processo de conflitos de terras agravado nos últimos anos por discursos simplistas e cruéis contra os direitos de minorias. Esses discursos prolongam o processo de extinção a que muitos povos são historicamente sujeitados.

Com certeza, devemos responsabilizar a omissão do Estado e denunciar a irresponsabilidade dos governantes e autoridades em todo esse episódio. No entanto, as repostas a esta tragédia não são fáceis e questões estruturais e estruturantes devem ser pensadas e trazidas ao debate. Nesse sentido, cabe lembrar as várias reivindicações e apontamentos da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (UNIVAJA) e dos Indigenistas Associados (INA), que trazem luz sobre 2 aspectos importantes: a política pública para povos indígenas e a política pública para os servidores indigenistas.

Não se pode deixar de citar ainda a exclusão de parcelas importantes da sociedade e da necessidade de escutar as pessoas mais excluídas, pois, em certo sentido, Bruno e Dom morreram por aliarem-se a grupos indígenas que vinham sofrendo e resistindo a violências e violações de seus direitos.

Por fim, em meio a tanta brutalidade não devemos perder de vista o aspecto humano de Bruno, Dom e Maxciel. Bruno Pereira mostrava-se extremamente preocupado com as pessoas, acreditou até o último momento no diálogo com os Ribeirinhos, considerados invasores da Terra Indígena, e acreditou na possibilidade de outros futuros para essas pessoas. A imagem de um homem cantando em uma língua muito diferente da sua, sentado em meio à floresta, junto ao grupo recém contatado, desarmado em todos os sentidos, apela à humanidade que, espero, possa sobreviver em nós.

Sanderson Castro Soares de Oliveira. LCA/PPGL/DEEI/UFAM (@ufam__ l)

A ANPOCS convida especialistas para se pronunciarem em seu nome sobre o bárbaro assassinato de Bruno Pereira e Dom Phillips.

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