Por Thiago da Costa Lopes

Publicado originalmente em 25/03/2024

#AbreAspas | Em 11 de março de 2024 completaram-se quatro anos da declaração da pandemia de covid-19 pela OMS. Em um esforço de memória sobre esse evento tão duro quanto disruptivo para indivíduos e coletividades, que no Brasil levou à morte mais de 710.000 pessoas segundo os dados oficiais, o Ministério da Saúde realizou seminário tendo em vista a concepção de um memorial sobre a covid-19 no país, reunindo atores políticos, entidades da sociedade civil e pesquisadores.

As Ciências Sociais têm muito a contribuir com as discussões sobre essa memória. Elas podem complementar o registro das experiências individuais, e incomensuráveis, de incerteza, sofrimento e perda, relacionando-as aos processos sociais mais amplos que influíram sobre a dinâmica da pandemia ao mesmo tempo em que foram por esta atravessados. Esse tem sido um dos objetivos do projeto de pesquisa coordenado por Simone Kropf no Departamento de Pesquisa em História das Ciências e da Saúde da Casa de Oswaldo Cruz/ Fiocruz. Entre outras questões, o estudo tem nos permitido compreender como as respostas produzidas pela ciência não apenas foram moldadas pelo regime de temporalidade acelerado que caracteriza o presente, exacerbado pela emergência sanitária, mas também forneceram parte da moldura a partir da qual a desnorteante experiência do tempo pandêmico – em que as incertezas trazidas pelo vírus se somavam às dúvidas produzidas pelos negacionismos – foi sendo coletivamente ordenada, adquirindo sentido.

Na construção coletiva da memória sobre a pandemia, não devemos nos esquecer de como ela instou as sociedades contemporâneas a repensarem a forma como se estruturam, o que inclui o modo como se relacionam com o meio ambiente e as persistentes desigualdades que as caracterizam. Embora os apelos à solidariedade, tão comuns no início da crise, tenham gradativamente cedido terreno às rotinas estabelecidas, o desafio de reimaginação da nossa vida em comum, em um mundo convulsionado por múltiplas crises, permanece como tarefa premente.

Thiago da Costa Lopes. Casa de Oswaldo Cruz/ Fiocruz

*Este post não representa necessariamente a posição da ANPOCS.

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